segunda-feira, 21 de março de 2011

Tempestade

São teus olhos de um profundo não ser, de qualquer coisa que me confunde e não me permite deixá-los sozinhos (te acompanho em cada olhar com o meu, ainda que às vezes disfarce). São tão negros quanto sem fim. Me dá medo o teu infinito que a cada instante me puxa mais para dentro de si – e eu nem mesmo quero sair. Vejo teu olhar refletido em minhas pálpebras, gravado no vazio do meu fechar de olhos como que a ferro e fogo, e de repente me arrebata: até que ponto são meus olhos ainda meus, se eu já os sinto tão intrínsecos e pertencentes ao teu infinito? Além da compreensão, teus olhos transbordam dentro de mim como uma calmaria que engana. A qualquer instante sinto que serás tempestade, se é que já não és. E nessa calmaria me perco com segurança e certeza: quando fores tempestade, serei ainda mais tua. Submersa no infinito dos teus olhos de águas negras.