terça-feira, 26 de outubro de 2010

Palavras

Quando cogito escrever, penso talvez fazê-lo para ser-me um pouco menos. Escrever é como um transe, é como um não-existir. As palavras fluem sobre mim, mas não sou eu quem as controlo. Sou apenas um caminho, um local por onde elas possam se concretizar. Passam por mim arrepiando-me todo o corpo, e é nesse arrepio que existo.
Quando as palavras perpassam-me, sinto-me inteira. Elas fazem seu trabalho de preencher em mim tudo o que outrora havia de vazio. As palavras me são por pura incompetência minha em ser-me. Necessito, num desespero agudo, que elas estejam ao meu lado, para guiar-me e fazer-me existir.
Ao terminar de escrever, sinto um estranhamento fortíssimo, como se aquelas palavras não houvessem sido proferidas por mim. É necessário reler cada sentença infinitas vezes e acostumar-me com a maneira com que as palavras fluem, para em seguida perguntar humildemente se elas permitem que eu as torne parte de mim. Minhas palavras jamais me rejeitaram, e por isso eu as amo como não há amor nenhum no mundo. Meu amor pelas palavras não é “eu te amo”, é “eu te sou”.

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